Pasmado – histórias e polêmicas
O Morro do Pasmado – de onde se tem a mais bela vista da Praia de Botafogo – vem sendo objeto de polêmicas desde os tempos do Império, quando passou a integrar o anedotário político do Segundo Reinado.
A discussão do momento é o projeto de construção, no alto do morro, de um memorial em homenagem às vítimas do holocausto – em forma de um monólito de 20 metros de altura –, ocupando área pública de proteção ambiental e paisagística. A associação de moradores é contra, assim como os órgãos de preservação.
No século passado, o assunto foi a remoção forçada dos moradores da favela urbanizada do Pasmado para os confins de Vila Kennedy, num processo de “higienização” tornado possível após o golpe militar de 1964. O primeiro incêndio programado de uma favela de que se tem notícia abriu caminho para novo ciclo de especulação imobiliária no bairro.
Mas o morro – que antes se chamou Pedreira do Matias e Morro do Suzano – já é assunto há muito mais tempo. Pelo menos desde a época do parlamentarismo monárquico de D. Pedro II, em que os partidos conservador e liberal se digladiavam pelo poder.
“Ministério do Pasmado” foi o apelido jocoso dado ao 18º gabinete ministerial do Segundo Reinado, que ficou no poder entre 30 de maio de 1862 e 15 de janeiro de 1864. A alcunha, provavelmente criada por seus opositores, é um acrônimo com nomes de alguns de seus ministros: Polidoro Jordão, Marquês de Abrantes, João Lins Vieira de Sinimbu, Visconde de Maranguape, Joaquim Raimundo De Lamare e Marquês de Olinda. O termo “pasmado” – significando ali “desprovido de vivacidade” – ironiza a idade avançada de seus membros: o mais novo deles tinha 51 anos e o mais velho, 69, enquanto a expectativa de vida do brasileiro era de pouco mais de 30 anos. Há quem atribua ao apelido do ministério o nome do morro, mas isso não passa de lenda. O “pasmado” do morro significa o espanto com a vista “de pasmar”.
Conhecido também como “ministério dos velhos”, o 18º gabinete enfrentou a Questão Christie – uma crise diplomática que resultou no rompimento de relações diplomáticas com o Império Britânico – e também as disputas diplomáticas na Região Platina, que levariam ao início da Guerra do Paraguai, em dezembro de 1964.
Três integrantes do Ministério Pasmado viraram nomes de rua em Botafogo: Marquês de Olinda, Marquês de Abrantes e General Polidoro. Esta última chamava-se Berquó e só mudou de nome em 1880, um ano após a morte do general, seu mais célebre morador.