Cantinho da Fofoca – Parte 2

Cantinho da Fofoca – Parte 2

O alto astral do Cantinho – de Botafogo e da Fofoca

Já que eu pretendia voltar a falar mais sobre o Cantinho da Fofoca, reduto de bambas em Botafogo, resolvi retornar ao Bar da Adelina num dia de roda de samba. “Pra nivelar a vida em alto astral”, tem uma galera que se reúne por lá de vez em quando com o objetivo de se divertir e divertir frequentadores animados como eu. Aliás, aquela ponta de Botafogo é animada e ainda conserva o clima suburbano que todo o bairro tinha: as pessoas se conhecem pelo nome, moradores privilegiam o comércio local, ajudam-se mutuamente e, claro, bebem, tocam, cantam e comemoram juntos.

A música é mesmo um fator aglutinador!

A base do grupo é formada por Flávio Feitosa no violão 7 cordas, Dark Davidson – com quem já havíamos tomado uma cerveja na primeira incursão ao bar da querida Adelina – e Leo Viana no cavaquinho, Serrano no pandeiro e José Jorge no tantã. A percussão sempre ganha reforços. O pessoal da cozinha vai chegando e tocando. Na roda do último dia 24 de junho, estavam lá também Marcello Spolidoro (pandeiro), Geraldo Lima (tantã) e Zé Carlos (cuíca). E, claro, muita gente curtindo!

Imagino que era assim também nos tempos do Cantinho da Fofoca, onde sempre havia espaço para um bamba naquele acolhedor quintal do seu Alcides. Então, vamos contar um pouco mais da história do lugar.

Segundo o livro “Valeu, passista”, de Ivy Zelaya, o nome “Cantinho da Fofoca” nasceu, em 1951, numa reunião do time de futebol amador Maguari Esporte Clube, na pensão do seu Alcides da Silveira Góes, que ficava na rua Rodrigo de Brito nº 9. Seu Alcides era viúvo, tinha dois filhos e morava naquela casa havia dez anos. Durante o horário de almoço, fornecia pensão e, à noite, promovia serestas. Quando a cantoria entrava pela madrugada, servia sopa de entulho para alegria dos frequentadores.

A seresta acabou virando roda de samba, que começava às sete da noite, sem hora para acabar. O grupo inicial contava com o filho mais velho de Alcides, Sylvio, que tocava um pandeiro de responsa, Japonês (cavaquinho), Careca (violão), Tião (flauta), Faísca (bandolim) e Sílvio (violão 7 cordas). Vavá, o filho mais novo, logo se integrou tocando violão.

Como eu já contei antes, grandes sambistas de Botafogo daquela época frequentavam o famoso quintal, que teve sua história interrompida pelo despejo de seu Alcides em meados da década de 1970. Verinha, nossa já parceira de copo e histórias, recorda com tristeza do fim do Cantinho da Fofoca. E Adelina lembra que Vavá – que, na época do despejo, morava na Embaixada, um cabeça de porco na rua Fernandes Guimarães – não conseguiu um outro espaço para reabrir o Fofoca. Uma pena… Queria eu ter conhecido e sambado naquele quintal. Infelizmente também não consegui ouvir Vavá contar as histórias daquele tempo. Ele morreu ano passado.

O Cantinho da Fofoca chegou a ser homenageado no carnaval de 2006, pelo bloco Maracangalha, que percorreu as ruas de Botafogo cantando dois sambas compostos por alguns de seus frequentadores. Sambas que retratam bem o que era e o que representava o Cantinho da Fofoca, cuja importância em nada fica a dever à quadra do Cacique de Ramos. Aliás, nosso bairro foi precursor daquele movimento dos pagodes cariocas, como bem destacou Nei Lopes ao dizer: “Antes de Ramos, houve o Cantinho da Fofoca, em Botafogo”.

Até a próxima roda! Fique aí no miudinho curtindo o samba animado do Bar da Adelina.

Jorginho (tantã), Marcello Spolidoro (pandeiro), Dark Davidson (cavaquinho), Flávio Feitosa (7), Leo Viana (cavaquinho) e Serrano (pandeiro)

“Sorriso aberto” (Guará)

Leia também:

Cantinho da fofoca – Parte 1

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Carla Paes Leme