Biscoito Globo, sal e doce!
O famoso e delicioso Biscoito Globo nasceu há mais de 50 anos, em uma padaria de Botafogo.
No final de julho de 1955, a cidade do Rio de Janeiro receberia milhares de devotos de todo o mundo para o 36º Congresso Eucarístico Internacional, promovido pela Igreja Católica. O evento duraria uma semana e seria realizado no Aterro do Flamengo, com a presença do presidente em exercício Café Filho. Entre os destaques da programação, estavam a imagem de Nossa Senhora de Fátima, trazida de Portugal, e uma mensagem transmitida via rádio pelo papa Pio XII.
Movidos menos pela fé do que pelo senso de oportunidade, os irmãos Milton, Jaime e João Ponce decidiram viajar de São Paulo ao Rio de Janeiro trazendo os biscoitos de polvilho – a base de polvilho azedo, água, óleo de soja, sal e ovos – que haviam aprendido a fazer na padaria de um tio. Não haveriam de faltar fregueses entre os milhares de visitantes esperados para o Congresso.
Os biscoitos de polvilho – que até então não haviam sido batizados – fizeram um tremendo sucesso, sendo fervorosamente devorados pelos fiéis. Quem sabe não vem desse episódio a expressão “de se comer de joelhos”?
Animados com as vendas e com a cidade, os irmãos resolveram se estabelecer por aqui mesmo, mais precisamente no bairro de Botafogo, onde conseguiram trabalho na Padaria Globo, que ficava no número 29 da rua São Clemente, hoje endereço de uma agência bancária e de um edifício residencial. A Padaria Globo fabricava e vendia biscoitos de polvilho, justamente a especialidade dos irmãos.
Com a nova receita e a enorme disposição para o trabalho dos três, o biscoito se popularizou nas ruas e nas praias. Era vendido na Padaria Globo, em sete outras lojas dos mesmos donos e também passou a ser fornecido para a concorrência.
Mas ainda faltava um nome, que acabou sendo a escolha mais óbvia – o nome da padaria onde o biscoito era fabricado. O logo e o desenho da embalagem – um bonequinho com cabeça em forma de globo terrestre, com um biscoito em cada mão, cercado pela torre Eiffel, a torre de Belém, o Pão de Açúcar e a torre de Pisa – foram criados por Alfredo Simões Nobre, um dos donos da padaria, para horror de qualquer designer que tenha um nome a zelar. Mas a marca pegou e, desde então, nunca mudou.
Só mudou mesmo o endereço. Na década de 1960 os irmãos Ponce se associaram ao português Francisco Nunes Torrão para ampliar o negócio. Hoje o produto é fabricado na rua do Senado, no Centro, e lá mesmo é distribuído. Diariamente, a partir das 4h da manhã, uma fila de ambulantes espera pelo Biscoito Globo – sal e doce –, que será vendido nos sinais, nos trens e nas praias do Rio. Uma criação de paulistas, que ganhou nome em Botafogo e virou paixão dos cariocas.