A infância em Botafogo de Luís Carlos Prestes
Botafogo foi famoso por abrigar, no passado, a nata da aristocracia carioca. O que poucos sabem é que aqui também morou Luís Carlos Prestes, líder comunista, cujo sonho era a revolução socialista contra essa mesma aristocracia.
Luís Carlos Prestes chegou ao Rio de Janeiro em 1904, com apenas seis anos de idade. O pai dele – o capitão do Exército Antonio Pereira Prestes – sofrera um AVC e havia sido transferido do Rio Grande do Sul, com toda a família, para a Capital Federal, onde teria acesso a melhores cuidados médicos.
Após uma rápida estada na casa da avó de Luís Carlos, na Tijuca, a família se mudou para uma casa em Botafogo, na esquina das ruas Dezenove de Fevereiro e General Polidoro. Lá passaram a morar o casal Antonio e Leocádia, os filhos – Luís Carlos, Clotilde e Heloísa – e a empregada Amélia, que veio do sul com a família.
Luís Carlos Prestes guardava algumas lembranças vívidas daquele período. Da janela da casa, ele teria visto, com assombro, o primeiro automóvel, “de um ricaço que passeava por ali”. Também se recordava do enterro de Machado de Assis, que parou o bairro em 1908.
Em 12 de janeiro do mesmo ano, o pai de Prestes havia morrido na nova residência, na rua Conde de Irajá. O menino Luís Carlos tinha, então dez anos. Administrando uma módica pensão e com ajuda eventual da família, d. Leocádia Prestes procurava educar os filhos da melhor maneira possível, com muitas dificuldades. Luís Carlos lembrava-se de ter frequentado uma escola particular de Botafogo por alguns meses, mas aprendeu a ler e a fazer contas em casa com a mãe, uma mulher extremamente culta, que também lhe ensinou a tocar cítara.
D. Leocádia resolveu matricular o filho em uma escola pública do bairro, enquanto ele aguardava a chance de disputar uma vaga para o Colégio Militar, no ano seguinte. A experiência foi a pior possível. Franzino e ostentando um vasto topete, Prestes foi logo apelidado de “topete de garnizé” pelos colegas. Certo dia, ao protestar contra as inúmeras provocações, foi cercado por cinco ou seis colegas e reagiu a dentadas. Ainda não era, então, um “comunista comedor de criancinhas”, mas já começava a colocar as presas de fora.
A Coluna Prestes
Com a mãe progressista e politicamente atuante, Prestes deu os primeiros passos na política. D. Leocádia levava Luís Carlos aos comícios de Rui Barbosa, candidato que ela apoiou para a Presidência da República, nas eleições de 1910, contra o marechal Hermes da Fonseca.
Luís Carlos Prestes conseguiu, finalmente, ingressar no Colégio Militar e, após algumas dificuldades dos primeiros anos, formou-se como primeiro de turma. Entraria para a história como um dos líderes das revoltas tenentistas, com destaque para a Coluna Prestes, uma marcha de 1.500 homens por 25 mil km pelo interior do país, entre 1925 e 1927, defendendo o voto secreto e ensino público para toda a população. Pelo movimento, ele ganhou o apelido de Cavaleiro da Esperança. Segundo alguns estudiosos, a Coluna Prestes inspirou a Grande Marcha da China, de Mao Tsé-Tung, em 1934, que, ao fim, resultou na revolução comunista chinesa.