Salvem o Português! Devolvam suas preposições!
Andam sequestrando termos essenciais das orações. O motivo? Não sei. Só sei que esse crime não vem passando despercebido aqui em Botafogo. No outro dia, parei num boteco para comprar uma água (juro que era água!) quando fui surpreendida pelo sequestro de uma preposição. Encostada no balcão, prestei atenção para a TV ligada. Era hora do almoço, hora do noticiário local. Na telinha, a repórter mandou: “… daqui uma semana, os deputados vão votar…”.
– Epa! A moça deve estar com fome, comeu até a preposição! – inflamada, pensei em voz alta.
Ao meu lado, um senhor com barba por fazer e hálito duvidoso riu e completou:
– Virou moda! Agora ninguém mais fala as preposições!
Ele tem razão. Venho reparando, de uns tempos para cá, que a preposição vem sendo eliminada como se fosse nociva, feia ou simplesmente desnecessária.
“Preposição é uma palavra invariável que liga um termo dependente a um termo principal, estabelecendo uma relação entre ambos” – explica mestre Cegalla, estudioso da nossa língua.
Na frase pronunciada pela repórter, faltava justamente a preposição “a”: “daqui a uma semana”. Além de “a”, temos outras preposições essenciais: ante, após, até, com, contra, de, desde (dês), em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás.
As preposições vêm antes de termos dependentes, como:
- objetos indiretos: Comprei esse livro para você.
- complementos nominais: A luta contra os poderosos.
- adjuntos: A casa de madeira foi vendida.
- orações subordinadas: Obrigou-me a ler.
Palavras de outras classes gramaticais podem ser usadas também como preposição. É o caso de: conforme, consoante, segundo, durante, mediante, como, etc. Exemplo: Fiz o dever conforme a orientação do professor.
As preposições são palavras vazias de sentido (apesar de algumas até conterem vagas noções de lugar e tempo), elas exprimem relações bem diversas numa frase, como:
- assunto: Conversamos sobre gramática.
- causa: Morreu de tristeza.
- companhia: Saiu com a turma.
- especialidade: Graduou-se em Ciências Sociais.
- direção: Olhe para mim.
- fim/finalidade: Trabalha para pagar as contas.
- falta: Estamos sem açúcar em casa.
- instrumento: Cortou-se com a faca.
- lugar: Viveu em Botafogo.
- meio: Vim de ônibus.
- modo/conformidade: Eu danço conforme a música.
- oposição: Flamengo jogou contra o Vasco.
- posse/propriedade: O cachorro da vizinha.
- matéria: Sapatinho de cristal.
- origem: Meus avós vieram da Irlanda.
- tempo: “Acordei durante a noite”
Espero ter contribuído para que você não faça parte desse time dos sequestradores de preposição! Se quiser saber mais, recorra a uma boa gramática. Eu tenho várias, mas hoje tive a ajuda da “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”, de Domingos Paschoal Cegalla. Em Botafogo, há muitas livrarias onde você pode comprar uma. Vamos manter, por favor, nosso português vivíssimo por aqui!