Os irmãos Farani
Os irmãos joalheiros Domenico (foto) e Cesare Farani vieram da Itália, em 1845, estabeleceram-se no Rio de Janeiro e aqui fizeram fortuna sob os auspícios da conterrânea Imperatriz Teresa Cristina, esposa do Imperador D. Pedro II. Moradores de Botafogo, os empreendedores Farani, mais tarde, entraram para o ramo da construção e abriram oito ruas no bairro, entre elas a que leva o seu sobrenome.
Desde que mundo é mundo, fortuna e poder costumam andar juntos. E a fortuna sorriu para os irmãos, que aqui ficaram conhecidos pelos nomes aportuguesados Domingos e César. Nascidos no pequeno povoado de Sapri, em Salerno, na Itália, eles aprenderam o ofício de ferreiro em Nápoles e resolveram tentar a sorte no Brasil.
Ao chegarem à capital do Império, em 1845, conheceram a imperatriz consorte Teresa Cristina de Bourbon, esposa de D. Pedro II e filha de Francisco I, rei das Duas Sicílias, reino europeu que, entre 1816 e 1861, compreendia os reinos da Sicília e de Nápoles. A princesa napolitana encantou-se com os dois conterrâneos que, além de ferreiros competentes, eram cultos e afáveis. A primeira grande encomenda aos Farani foi a cunhagem de novas moedas para a Casa da Moeda Imperial, pois o imperador não estava satisfeito com as grandes e pesadas moedas de bronze em circulação.
Com apoio de Teresa Cristina, os dois viajaram à Nápoles para fazer um curso de especialização em ourivesaria, com duração de um ano. De volta ao Rio de Janeiro, Domingos e César abriram uma joalheria no número 59 da antiga rua do Ourives – atual Miguel Couto –, no Centro do Rio. Além de cunhadores de moedas, agora César e Domingos eram donos da joalheria oficial da Casa Imperial e, por consequência, de toda a aristocracia carioca.
Prósperos, fidalgos e amantes das artes, os irmãos Farani transformaram sua joalheria em ponto de encontro de artistas e intelectuais. Os Farani eram populares a ponto de serem citados em obras de autores de renome, como Machado de Assis e Artur Azevedo:
“A casa da mesma rua, esquina da dos Ourives, onde ainda ontem (perdoem ao guloso) comprei um excelente paio, era uma casa de joias, pertencente a um italiano, um Farani, César Farani, creio, na qual passei horas excelentes. Fora, fora, memórias importunas!”
(Correspondências de Machado de Assis 1870-1889)
“Nunca o Farani e o Luís de Resende cravejaram de brilhantes tantas condecorações”
(da peça Viagem ao Parnaso, de Artur Azevedo)
Os Farani abrem ruas em Botafogo
De ricos joalheiros, os irmãos Farani passaram a diversificar os negócios investindo na construção civil. Grandes proprietários de terras, os dois eram donos da maior construtora da capital na década de 1870. Além de construir imóveis em todo o Rio de Janeiro, iniciaram a urbanização de várias regiões da cidade, abrindo ruas, praças e jardins. Somente em Botafogo, foram oito novas ruas inauguradas em 1873: a Farani, que mais tarde seria ligada à rua Guanabara (atual Pinheiro Machado); a Barão de Itambi; a rua D. Ana, atual Jornalista Orlando Dantas; a rua Piedade, atual Clarice Índio do Brasil; a Visconde de Caravelas; a Visconde de Silva; a Pinheiro Guimarães; e a Visconde Abaeté, atual Conde de Irajá. Também na construção, os irmãos Farani deixaram sua marca com urbanística moderna, distinta das velhas tradições coloniais lusitanas. Suas ruas eram amplas e seus projetos incluíam praças e jardins.