O general, o cachorro e a estátua viajante

O general, o cachorro e a estátua viajante

No meio do caminho, tinha uma pedra.

Era o Morro do Pasmado, que separava o Club de Regatas Botafogo, fundado em 1894, e o Botafogo Football Club, nascido dez anos depois. Muito antes de alguém ouvir falar em Heleno de Freitas, Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho, havia Antônio Mendes de Oliveira Castro, remador que conquistou o primeiro título nacional em 1902. Oliveira Castro também fez parte da guarnição do barco Diva que, em 1899, venceu as 22 regatas que disputou, sagrando-se campeão carioca.

Mas os dois clubes nunca foram rivais. Muito ao contrário. E uma tragédia selou a fusão entre eles. Em 11 de junho de 1942, disputavam uma partida de basquete pelo Campeonato Estadual, e o jogador Albano, do Botafogo Football Club, caiu em quadra, vítima de um infarto fulminante. O presidente do Clube de Regatas Botafogo – o poeta e diplomata Augusto Frederico Schmidt – declarou, então, a vitória da partida pelo Botafogo Football Club. O presidente do Botafogo Football Club, Eduardo Góis Trindade, retribuiu a gentileza dizendo: “Nas disputas entre os nossos clubes só pode haver um vencedor, o Botafogo!” A solidariedade fez com que, naquele mesmo ano, fosse fundado o Botafogo Futebol e Regatas. A bandeira perdeu o escudo das letras entrelaçadas do BFC e ganhou a estrela solitária do Clube de Regatas Botafogo.

Evolução da marca

General Severiano e o Manequinho

Carlito Rocha e Biriba

A união fortaleceu o clube. Seis anos depois, o time de futebol derrotou, em General Severiano, o lendário Expresso da Vitória, do Vasco da Gama. O primeiro título do novo clube veio com Carlito Rocha no comando e o cachorro Biriba como mascote. A fama de supersticioso do dirigente era folclórica. Além de fazer questão de ter Biriba no banco, Carlito Rocha mandava amarrar as cortinas da sede em dias de jogos para dar sorte.

E durante muito tempo ela não faltou ao Botafogo. Os anos que se seguiram foram marcados por vitórias e pelo surgimento de grandes ídolos. Garrincha, Nilton Santos, Didi, Quarentinha, Amarildo, Paulo Valentim, Zagallo, Jairzinho, Paulo Cesar Caju e Gerson fizeram do Botafogo um clube respeitado.

Após 1968, no entanto, o clube entrou em crise. Ficou sem títulos, sem dinheiro e sem a sede de General Severiano, que foi vendida para a Companhia Vale do Rio Doce em 1977. Para piorar as coisas, a estátua do Manequinho – símbolo da torcida desde 1957, quando um torcedor a vestiu com uma camisa do Botafogo – foi roubada e destruída em 1990.

A sorte só mudou novamente no início daquela década. Por meio de uma permuta, o clube readquiriu o terreno da velha sede, recuperou inteiramente o palacete colonial Venceslau Brás e ergueu um shopping center no restante do terreno, em cuja cobertura hoje ficam o campo de treinos, o moderno centro de treinamento, a concentração da equipe profissional, além de um ginásio de basquete e vôlei, três piscinas para sócios, quadras polivalentes e restaurante. Uma nova estátua do Manequinho foi feita a partir do molde original de Belmiro de Almeida e instalada em 1994, na praça em frente ao palacete de General Severiano.

Uma estátua viajante

Uma curiosidade para os botafoguenses mais supersticiosos: o endereço original da estátua era a Praça Floriano Peixoto, no Centro do Rio, de onde foi transferida para a Praia de Botafogo, em 1927, por ser considerada uma afronta aos bons costumes. O general João Severiano da Fonseca, que dá nome à rua e à sede do Botafogo, era um desafeto de Floriano e foi um dos signatários do Manifesto dos 13 generais denunciando os abusos do então presidente da República. Convém, portanto, manter o General Severiano e o Manequinho bem próximos. E, é claro, manter as cortinas da sede amarradas em dias de jogos do Glorioso. Carlito Rocha aprovaria.

Antonio Augusto Brito