Negócios e cavalos

Negócios e cavalos

A recém-inaugurada Casa Firjan, em Botafogo, guarda muita história. Em seu palacete viveram Lineu de Paula Machado (foto), a mulher Celina Guinle e os filhos Francisco Eduardo, Cândido, Lineu e Heloísa. A casa, construída em 1906 e tombada pelo patrimônio municipal e estadual, foi presente de casamento de Cândido Gaffré, sócio de Eduardo Pallasim Guinle, pai de Celina. Juntos, Cândido e Eduardo construíram uma das maiores fortunas da indústria e das finanças ao longo do século XX. Já Lineu de Paula Machado foi o maior criador de cavalos da história do país, responsável pelo desenvolvimento da raça puro sangue inglês no Brasil, idealizador do Hipódromo da Gávea e fundador do Jockey Club Brasileiro.

Nascido em Rio Claro, São Paulo, em 1880, filho de pai médico e mãe neta do Barão de Araraquara e Visconde de Rio Claro, Lineu sempre foi um apaixonado por cavalos. De família de posses, ele teve a oportunidade de estudar, entre 1894 e 1903, em Paris, onde não perdia uma corrida de cavalos. Ao retornar, convenceu o pai a abrir um haras para criação da raça puro sangue inglês, própria para corridas e para o hipismo. O Haras São José – mais tarde, São José & Expeditus – foi inaugurado em 1906.

Celina Guinle

Disposto a investir na criação de grandes campeões, Lineu mudou-se, em 1909, para o Rio de Janeiro, onde começou a ganhar prêmios, entre eles o “Grandes Criadores”. Bem estabelecido na cidade e já gozando de certo prestígio no turfe carioca, ele se casaria dois anos depois com Celina Guinle (foto). O casamento uniu duas grifes das altas sociedades paulista e carioca, embora os Guinle fossem muitíssimo mais ricos.

Ao mesmo tempo em que investia em seu haras, adquirindo corredores e reprodutores nos EUA e na Europa, Lineu trabalhava para o desenvolvimento do turfe brasileiro. Conseguiu, junto ao presidente Venceslau Brás, a regulamentação da atividade de criador, conforme as normas internacionais; negociou uma permuta de terrenos para inaugurar, em 1926, o Hipódromo da Gávea; e lutou para unificar as duas entidades cariocas – o Derby Club e o Jockey Club –, que formaram o Jockey Club Brasileiro em 1932. Lineu foi seu primeiro presidente.

No dia 27 de outubro de 1942, após assistir à vitória da égua Dorillas, que ele havia criado desde filhote, Lineu de Paula Machado deu entrevista aos repórteres declarando: “Se eu morresse amanhã, minha obra não pereceria porque deixo meu filho (Francisco Eduardo) como continuador.” No dia seguinte, o avião da Panair modelo Lockheed Lodestar PP-PBG, que levava Lineu e dez outros passageiros – além de quatro tripulantes –, do Rio para São Paulo, caiu nas proximidades de Pedra Branca, Santo André, perto da represa de Santo Amaro, sem deixar sobreviventes. Lineu estava certo. A paixão por cavalos continuou com Francisco Eduardo e os irmãos Cândido e Lineu, que ajudaram a manter o Haras São José & Expedictus como berço de campeões. Foi daquele haras que saiu Itajara, considerado o maior cavalo de corrida brasileiro de todos os tempos. Ele venceu, com folga, todas as competições que disputou na década de 1980.

Guilherme Guinle

Após a morte de Lineu, o irmão de Celina, Guilherme Guinle (foto) – empresário nacionalista, primeiro presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e fundador da Companhia Vale do Rio Doce – passou a morar na casa com a irmã e os sobrinhos. Ele morreu em 1960 e Celina, em 1974. Francisco Eduardo foi o último Guinle Paula Machado a morar naquele endereço. Quando ele morreu, em 2005, aos 89 anos, a casa ficou fechada por vários anos até ser comprada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em 2011.

Depois de uma restauração completa, o palacete dos Guinle-Paula Machado abriu para visitação do público, que pode conhecer um sítio histórico de Botafogo em que, durante décadas, se falou de negócios e, principalmente, de cavalos.

Lineu de Paula Machado

Antonio Augusto Brito