Força para a luta! União para a vida!

Força para a luta! União para a vida!

Ladeirinha, degraus… Estamos mesmo fora de forma! Ufa! Arfando, chegamos à Associação de Moradores Santa Marta antes do presidente José Mário Hilário dos Santos. Da recepção, ouvíamos uma flauta. Era uma aula. Mais tarde, soubemos pelo professor Antônio Jocielton que era uma reposição, já que o aluno tinha perdido a aula com o grupo.

As aulas de música ministradas no prédio da associação – violão, percussão, flauta – são gratuitas graças a uma parceria com o pessoal do bloco Spanta Neném. Quem nos contou, logo ao chegar, foi o sorridente José Mário, presidente da associação há dez anos.

José Mário atua na instituição desde 1992, quando o presidente morreu, o vice foi pra Alemanha, e ele, que era tesoureiro, assumiu. Sua liderança é reconhecida dentro e fora da Santa Marta, tanto que é também presidente da União Comunitária das Favelas, reunindo 50 comunidades.

A Associação de Moradores Santa Marta foi fundada em 1965 para organizar a comunidade e defender seus direitos a água, luz, saneamento, etc. Sempre ficou no mesmo lugar, só que a rua Mestre Diniz se chamava Padre Hélio. E o que antes era um barraco hoje é uma casa de quatro andares. O local melhorou muito, mas a luta pelos direitos dos moradores continua.

Uma dessas lutas em curso é sobre a telemetria feita pela Light. Só a empresa tem um relógio. Os moradores não têm um para aferir o consumo dentro de casa. A cobrança é feita por estimativa, e os valores altos demais para quem mora na comunidade. Enquanto a conta de água da Cedae, empresa estatal, gira em torno de R$ 30, a de luz – Light, empresa privada – pode chegar a R$ 1.000, para desespero dos moradores.

Outra batalha da associação é quanto à segurança pública. Logo no início da pacificação, a comandante Priscila assumiu a UPP com a proposta de uma política de aproximação com a comunidade. Mas as mudanças no comando a cada oito meses foram deixando essa ideia de lado. José Mário empenha-se para estabelecer boas relações com a UPP, tentando colaborar na maneira de os policiais trabalharem e abordarem moradores. Mas a situação não anda tranquila, nem favorável.

Na verdade, a questão da violência está em todo o Rio de Janeiro. “Enquanto não aceitarem a favela como parte da cidade, a tendência da violência é aumentar. Tem de ter orçamento pra melhorar a vida nas comunidades”, aponta o líder da Santa Marta.

A segurança não é mais a mesma. Bancos e comércio de grandes redes saíram da comunidade. Os guias locais, que atendiam 10.000 turistas por mês, hoje estão ociosos. O número de visitantes caiu para menos de 2 mil.

A Faetec, que oferecia cursos de informática para crianças e jovens da comunidade, está fechada há mais de um ano.

Mas nem tudo é notícia ruim. Além das aulas de música para a garotada, há também de muay thai lá mesmo no prédio da associação, com os professores Cobra e Verônica. Todas gratuitas.

A associação também tem uma parceria com o Sesi, que oferece cursos profissionalizantes. No momento, há vagas para os cursos de maçariqueiro e soldador de carbono.

O papo com José Mário rolou animado, com assuntos diversos: de escola de samba e baile funk a violência e religião, sem esquecer o futebol, que ele, botafoguense, joga todo sábado.

A conversa com o presidente da associação de moradores foi interrompida algumas vezes. Numa delas, foi dona Maria que entrou para pagar sua contribuição de R$ 20. É assim que a entidade sobrevive.

Outra moradora chegou perguntando se alguém havia entregado uma carteira. É que a filha tinha perdido documentos e cartões bancários. José Mário disse que ia divulgar na rádio, na verdade um sistema de alto-falantes em que os recados são dados pelo microfone da associação e ouvido por toda a comunidade. O sistema, aliás, também é usado para alertas da Defesa Civil.

José Mário usa o sistema de comunicação para finalidades diversas: tanto para anunciar a perda de objetos, quanto para divulgar eventos de cultura e lazer, cursos gratuitos, vagas de empregos ou qualquer outro serviço de utilidade pública para a comunidade. Leva jeito para locutor!

Um outro serviço importantíssimo é funcionar como uma central de distribuição do correio. O carteiro entrega as correspondências para todos os moradores lá na associação, onde cartas e contas são separadas pela primeira letra dos nomes dos destinatários e colocadas nos escaninhos da recepção. Cartões de créditos ficam guardados e são entregues em mãos. Também existem caixinhas de correio particulares, pelas quais os moradores pagam R$ 15 por mês para utilizarem.

Enfim, a Associação de Moradores Santa Marta preocupa-se com a comunidade como um todo: desde lutas por direitos dos moradores a cursos gratuitos para crianças e adolescentes, passando por serviços de utilidade pública de todos os tipos. Tudo isso feito com garra e afeto por José Mário e seus colaboradores. Parabéns a todos pelo belo trabalho!

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Carla Paes Leme