FEBEAPÁ

FEBEAPÁ

Já fomos subdesenvolvidos, em desenvolvimento, emergentes, BRICS e bracs e coisa e tal. E hoje, qual o eufemismo econômico da moda que nos classifica dentro da nova ordem mundial? A quem interessam números, dados e estatísticas quando grassam a inépcia, a farsa e a mentira – e nas ruas se morre de bala, de surto, de fome e de vício?

Os engodos, cinismos e simulacros dos quais somos testemunhas vivas no limiar deste obscuro século XXI, antes de serem apenas amenidades despretensiosas, fazem parte de um programa, uma estratégia – em grego stratigikí, em francês stratégie, em latim strategi –, e que têm objetivos maiores.

Houve um tempo em que este festival de besteira que a mídia massifica diuturna e criminalmente tinha nome – e vinha em sigla: FEBEAPÁ.

Assim Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do escritor Sérgio Porto – inspirado no personagem de Oswald de Andrade, o Serafim Ponte Grande –, via e relatava em crônicas hilárias as candanguices oficiais naqueles idos tupiniquins da ditadura.

Imaginemos o festival de sandices expostas em títulos de crônicas como O vagabundo e a previdência, A separação dos poderes, Ainda o INPS?, Salvando a Pátria, O procurador e o prefeito ou O general taí.

Quão atual não é o FEBEAPÁ – Festival de Besteira que Assola o País – de Stanislaw diante da lógica suprema (e tudo) de forças jurídica e belicamente armadas que hoje assolam o país?!?

Porém, a despeito de toda a adversidade do contexto, no texto do FEBEAPÁ, o cronista – humorista que é – vê lugar pro cotidiano d’O cego de Botafogo:

Há conversas que surgem numa mesa de bar que dão perfeitamente para derrubar qualquer Freud num divã de psicanalista (…) Naquele botequim de Botafogo, só porque havia umas mesas na calçada (tão raro agora… mesas na calçada), reunia-se um grupo de senhores das redondezas.

Note-se que, ao menos em Botafogo, as mesas na calçada, ilegalmente, hoje voltaram à moda:

Nessas alturas estavam sentados uns três ou quatro em volta da mesa comum à turminha. Não se falava coisa nenhuma, na ocasião. Foi quando um deles olhou para a calçada do lado de lá e falou:

– Lá vai a mulher do cego!

Foi nesse momento que se sentou à mesa um cara conhecido da roda, mas que não a frequentava sempre. Pelo contrário; era novo na turma. Chegou, sentou e pediu um uísque com bastante soda:

– Vocês não têm pena do cego de Botafogo? Com a mulher que ele tem…

Os amigos das antigas conheciam muito bem o cego de Botafogo, aquele não era o seu caso:

– Mas quem te disse que o cego de Botafogo não vê?
– Ué… ele não é cego?
– Que cego, homem! Ele é oculista. Enxerga pra burro!

Cego de Botafogo era apenas o apelido do cara.

Quanta besteira!

Lucio Valentim