Breve história da FACHA
Disseram para o filho de operário, imigrante, pobre, que ele jamais entraria para uma faculdade. Determinado, entrou, não para uma, mas para duas faculdades, se formando nas duas ao mesmo tempo! Não satisfeito, construiu uma das maiores organizações educacionais do Rio de Janeiro. Esse obstinado era Hélio Alonso.
Em dezembro de 1971, ele abriu, em Botafogo, a Faculdade de Comunicação Hélio Alonso (FACHA), inicialmente em apenas duas salas alugadas ao Colégio Imaculada Conceição. Em plena ditadura, o professor e empresário Hélio Alonso fez questão de fazer da nova instituição um ambiente de ensino e transformação, onde os alunos se sentissem livres e protegidos, e professores pudessem ensinar com autonomia. Passados quase 50 anos, hoje a FACHA é referência na formação acadêmica, com 12 cursos de graduação e um diversificado portfólio de cursos de extensão e de pós-graduação.
Inaugurar uma faculdade privada de Comunicação, numa época de censura e repressão política, poderia parecer loucura para qualquer um. Mas Hélio Alonso estava longe de ser qualquer um. Filho de um operário imigrante pobre da província espanhola de Cádiz, Hélio aprendera, desde cedo, a lutar muito por seus objetivos. Precisou trabalhar desde os 14 anos e só conseguiu terminar o clássico – equivalente ao ensino médio – em 1949, aos 21 anos, no extinto Colégio Juruena, em Botafogo. Como o objetivo seguinte era entrar para a Faculdade Nacional de Direito – hoje uma das faculdades da UFRJ –, resolveu prestar concurso público para conciliar trabalho com os estudos. Em um ano, aprendeu latim – na época, um pré-requisito para cursar Direito – e, em 1950, foi aprovado para a faculdade. Cursava Direito à noite e, aproveitando as manhãs livres, começou a cursar também Letras, na PUC. Em 1955, formou-se nas duas faculdades.
Quando o projeto da FACHA surgiu, Hélio Alonso já era referência na educação carioca. Seu curso de pré-vestibular era líder em aprovações, e as aulas de latim, com método desenvolvido pelo próprio Hélio Alonso, eram frequentadas até por alunos de outras escolas. Na visão de Hélio Alonso, a escola deveria ser “construída pelo diálogo e aberta à comunidade”. Dentro desse espírito, o Festival de Música Hélio Alonso era um espaço democrático raro. Daquela alegre balbúrdia que teve 44 edições consecutivas, participaram alguns jurados ilustres, como Paulo César Pinheiro, Emílio Santiago, Gonzaguinha, Sandra de Sá, Leiloca, Caetano Veloso, Emilinha Borba, Paulinho da Viola, João Nogueira, Milton Nascimento, Clóvis Bornay, Clementina de Jesus, Elba Ramalho, Elza Soares, Baden Powell, Elke Maravilha e Chacrinha.
Diretas Já!
A FACHA nasceu em meio àquela efervescência cultural de tempos políticos conturbados. E Hélio Alonso não admitia interferências externas naquele espaço de saber. Não aceitou a presença de agentes infiltrados do Serviço Nacional de Inteligência; contratou bons professores, que não conseguiam emprego por causa da fama de esquerdistas; e não se opôs nem mesmo quando estudantes deram ao seu diretório o nome de Vladimir Herzog, em homenagem ao jornalista preso, torturado e morto pelo regime. Ou quando estudantes e professores da faculdade se uniram à multidão no comício das Diretas Já, na Candelária, em 1984. Ou ainda quando o diretório estudantil criou o “quarto turno”, série de oficinas, laboratório de jornalismo e eventos culturais que ocorriam na faculdade após as dez da noite, incluindo shows de estreantes da MPB como Cássia Eller, Zélia Duncan, Leo Gandelman, Rafael Rabello, Claudio Nucci e os grupos Blues Etílicos e Garganta Profunda.
Hélio Alonso, o Magistrorum magister – “Mestre dos mestres”, como era carinhosamente chamado –, morreu em 2015, mas deixou um legado impressionante. Desde o início, na década de 1950, as empresas do grupo* formaram dezenas de milhares de profissionais reconhecidos nas áreas em que atuam. Pela FACHA passaram futuros profissionais de destaque como Artur Xexéo, Renata Boldrini, Genilson Araújo, Ancelmo Gois, Fernanda Young, Isabela Scalabrini, Léo Jaime, Marcelo Yuka, Marcos Uchôa, Mylena Ciribelli, Renata Caputti e Tim Lopes.
Nada mal para um filho de operário que acreditava no poder transformador da Educação!
*formado pelo Curso Hélio Alonso, a Organização Hélio Alonso de Educação (OHAEC), o Colégio Hélio Alonso Botafogo, a FACHA, o Colégio Hélio Alonso Méier, a FACHA-Méier, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Administração
Fonte de pesquisa: “Hélio Alonso: a biografia de um visionário da educação”. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2016