Ana

Ana

Naqueles idos dos anos de 1970, era imperativo ao espírito jovem expor sua energia nas ruas – quer fosse com fuzis, quer fosse com palavras. Os que não militavam nas guerrilhas urbanas operavam mimeógrafos – e faziam da revolta pura poesia. Ou vice-versa.

Afinal, como dizia um aforismo poético da época, “en la lucha de clases todas las armas son buenas: piedras, noches, poemas”.

Para espíritos inquietos como o de Ana Cristina Cesar, cuja inadequação era muito mais do que política – mas existencial –, a poesia foi de fato uma verdadeira arma. Tanto assim que Ana logo ganharia notoriedade e figuraria no antológico 26 poetas, hoje, de Heloisa Buarque de Holanda. Isto ali pelos idos de 1976.

Garota de Copacabana, as passagens de Ana por Botafogo, ao mesmo tempo em que foram cruciais para o reconhecimento de sua poesia, seriam também via-crúcis de parte de seu martírio. E – ciclotímica que era – o vaivém do mar marcaria, de forma trágica, sua vida. E poesia.

Depois de ter lançado – ainda em mimeógrafo – Cenas de abril, Correspondência completa e Luvas de pelica, no final dos 70, foi no circuito de bares, num daqueles recitais semanais de poesia promovidos pelo Barbas, na Álvaro Ramos, que Ana Cesar lançaria, enfim, o clássico A teus pés: uma bela edição – agora oficializada – dos primeiros três livros.

Rolava o início da indecifrável década de 1980.

Nos conta o biógrafo e amigo Italo Moriconi no seu Ana Cristina Cesar: o sangue de uma poeta que, logo após o estupendo sucesso de A teus pés,

(…) ela tinha feito uma tentativa de suicídio na praia da Barra e que estava internada numa clínica em Botafogo.

Poucos meses depois, Ana Cristina, aos trinta e um anos, voaria de sua janela para o infinito, de um sétimo andar da praia de Copa.

Lucio Valentim