Abílio César Borges, educador do século 19

Abílio César Borges, educador do século 19

Barão de Macaúbas, nome de uma rua de Botafogo, é título de nobreza do professor, dono de colégios, médico e cirurgião baiano Abílio César Borges (1824-1891), que revolucionou o ensino no Brasil na segunda metade do século 19. Em seus colégios, onde castigos eram proibidos, estudaram ilustres membros da elite da época, como Castro Alves e Rui Barbosa, no Ginásio Baiano, de Salvador; e Raul Pompéia, no Colégio Abílio, da Praia de Botafogo.

Quando Abílio César Borges se mudou de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1871, para estudar medicina, seu colégio na Bahia já era referência de ensino inovador e de qualidade. E Abílio era uma figura de prestígio, não apenas como educador, mas também por sua participação, anos antes, no esforço da Guerra do Paraguai, ajudando a financiar e arregimentar o corpo de infantaria de voluntários da pátria baianos – os zuavos da Bahia.

O educador tinha uma visão muito particular – e ousada – para aqueles tempos. Em seus colégios, os alunos aprendiam com liberdade e nunca eram reprimidos. Abílio advogava um ensino inteligente e prático, com aprendizado de línguas vivas. No curso secundário, priorizavam-se os estudos da língua nacional, da matemática e da história.

Em 1873, o baiano abriu, no Rio de Janeiro, o Colégio Abílio, inicialmente na rua Ipiranga, em Laranjeiras. Mas a escola foi logo fechada, só voltando a abrir dez anos depois, dessa vez em Botafogo. Abílio Borges passou a dividir a administração do colégio com o filho Joaquim Abílio Borges. O primeiro endereço do colégio no bairro foi a Praia de Botafogo 172, onde funcionou até abril de 1890. Depois, ele foi transferido para a rua Marquês de Abrantes 20 e, finalmente, para o antigo palacete na Praia de Botafogo 374, que pertencera ao Barão de Alegrete. O jovem Raul Pompéia era um dos alunos do internato, onde estudou até 1879. Os anos em que passou no Colégio Abílio serviram de inspiração para ele escrever sua obra-prima “O ateneu”.

Nomeado Diretor Geral de Instrução Pública da capital do Império – e sempre atento às novidades –, Abílio Borges foi pioneiro na introdução dos livros didáticos nas escolas públicas. Por sua contribuição para a educação no Brasil, Abílio recebeu o título de Barão de Macaúbas do imperador D. Pedro II, que nunca escondeu de ninguém o desejo de ser professor, tivesse ele outra vida.

Abílio César Borges morreu em 16 de fevereiro de 1891, mas o Colégio Abílio funcionou até o início do século 20. Um anúncio de 1914, no jornal Gazeta de Notícias, assim descrevia a instituição:

Internato limitado a 80 meninos de famílias distintas, de 7 a 15 anos de idade e externato, das 10 às 16h30. Notável professorado. Ensino prático de línguas vivas. Laboratórios, museus e gabinetes para o ensino científico experimental. Educação física sem exageros prejudiciais à saúde e aos estudos. O futebol não é permitido no verão.O dormitório dos menores fica ao lado dos aposentos da família do diretor, e, durante toda a noite, há um encarregado da vigilância. Não se aceitam internos maiores de 15 anos. A disciplina do Colégio Abílio, em Botafogo, é persuasiva e preventiva, e a ordem é obtida por uma ininterrupta fiscalização, sem espionagem, sem delações. Somente são admitidos meninos de boa índole, não havendo, portanto, receio dos pervertidos ou dos degenerados, que precisem de meios coercitivos, impróprios de uma casa de educação. No governo escolar não empregam castigos humilhantes, aviltantes ou ridículos. O colégio Abílio, em Botafogo, em nada se assemelha com um quartel, claustro, asilo, casa de saúde ou estabelecimento correcional. Continuam abertas as matrículas nos dias úteis das 11 às 14 horas na praia de Botafogo 374 (edifício próprio com todas as condições de higiene e conforto). […] Há muito o Colégio Abílio deixou de existir. Restaram apenas as memórias ficcionais do clássico de Raul Pompéia e alguns nomes de ruas e de escolas municipais espalhadas pelo país. Seu filho, Joaquim Abílio Borges, também foi homenageado. Uma escola municipal aqui perto, no bairro do Humaitá, ganhou o seu nome.

Antonio Augusto Brito