Cabeça de porco
Entre o Império e a República, a cidade passou por diversas – e radicais – transformações. A antiga nobreza, em dissolução de valores e costumes, ia gradativamente desocupando os palácios centrais da cidade, passando a ocupar áreas antes inacessíveis, como o “distante” bairro de Botafogo. Sim, distante, sobretudo sendo o mais eficaz meio de transporte à época o cavalo. E, quer fosse de tílburi, de caleça ou de cabriolé, da Rua da Guarda Velha à praia de Botafogo era chão.
Copacabana e Ipanema, então, eram zonas bucólicas e quase rurais. Ah, lembremos, também: um cortiço, fosse na zona do Centro, fosse lá pros lados de Botafogo, já se alcunhava – pejorativamente – cabeça de porco.
Os dois mais famosos cortiços de que se tem notícia é o Cabeça de Porco, na Zona Portuária, e aquele ao qual referiu Aluísio de Azevedo em seu clássico, “O Cortiço”, que ficava nas cercanias de onde é hoje a esquina das ruas Marechal Niemeyer e Bambina.
Num momento em que o perímetro urbano se expandia, o bairro serviu de microcosmo da própria divisão de classes que surgia na cidade.
Duas camadas sociais antagônicas se defrontando no mesmo espaço em vias de urbanização: de um lado o solar abastado dos Miranda; de outro o fétido cortiço, moradia coletiva, de maus costumes e baixíssima renda.
Pobres e ricos, em Botafogo, separados – pasmem – por um muro! Muito antes de Trump!