O endereço mais famoso de Botafogo
Ali moraram uma rainha, um marquês, um visconde e – reza a lenda – até mesmo um dos filhos da “Imperatriz do Tijuco”
Nos números 142 e 144 da Praia de Botafogo, ficam os imponentes edifícios São João Marcos e Paraopeba. Eles foram projetados em estilo Luis XVI pelo arquiteto francês Joseph Gire, autor de alguns dos mais famosos projetos arquitetônicos da cidade, como o Palácio das Laranjeiras (1909), o Hotel Glória (1922), o Copacabana Palace (1923) e o Edifício Joseph Gire (1930) – mais conhecido como edifício A Noite.
Os nomes São João Marcos e Paraopeba foram dados em homenagem a dois nobres do tempo do Império, apesar de sua inauguração ter sido em 1938, quase 50 anos depois da proclamação da República.
Pouco importava. Títulos de nobreza sempre deram prestígio, embora, no tempo do Império, fossem outorgados a quem pudesse pagar por eles ou tivesse bom trânsito na Corte. Era o caso de Romualdo José Monteiro de Barros – Barão de Paraopeba (1756-1855), político e proprietário de rica lavra de ouro e de uma fundição de ferro em São Paulo – e de Pedro Dias Paes Leme da Câmara (1772-1868) – Barão com Grandeza e Marquês de São João Marcos, Guarda-Mor Geral de todas as Minas do Brasil e 3º Senhor da propriedade de São João Marcos, por onde passavam todas as pedras preciosas vindas de Minas Gerais.
Pedras preciosas também eram o negócio do contratador João Fernandes de Oliveira, mais conhecido como companheiro da ex-escrava do Tijuco (hoje, Diamantina) Chica da Silva, com quem teve 13 filhos. Um deles era José Fernandes, suposto primeiro morador daquele endereço da Praia de Botafogo, na esquina com o Caminho Novo de Botafogo (atual rua Marquês de Abrantes), onde então havia uma chácara, com jardim central em estilo inglês e uma ampla casa.
Com a chegada da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, a casa de José Fernandes foi construído ali um palacete para a rainha Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, com quem não vivia maritalmente. Ela ficou nesse endereço até o retorno da Corte para Portugal, em 1821. Mais tarde, após as mortes de D. João VI e Carlota Joaquina, a casa foi vendida ao Marquês de Abrantes. Quando ele morreu, a residência passou ao Visconde Silva, com quem a viúva do marquês havia se casado.
A casa – que, ao longo dos anos, havia passado por diversas reformas até virar palácio – foi demolida em 1918 para dar lugar, vinte anos depois, aos dois edifícios de Joseph Gire. Sua arquitetura impressiona aos mais atentos, embora os nomes tenham, com o tempo, perdido significado, mesmo em um bairro em que até confeitaria tem nome de Imperial.