Cemitério das celebridades
Inaugurado pelo imperador D. Pedro II em 1852, o Cemitério São João Batista é, desde então, a última morada de boa parte das celebridades da política, das letras, das artes, da ciência e do entretenimento. Localizado em Botafogo, entre as ruas Real Grandeza e General Polidoro, o cemitério abriga sepulturas de imortais da Academia Brasileira de Letras, ex-presidentes da República e diversas personalidades. D. Pedro II, mesmo, não seria enterrado lá. Deposto por um golpe militar em 1889, o imperador morreu no exílio em Paris, longe de sua terra. Seus restos mortais – e da família imperial – só retornaram ao Brasil em 1939 e encontram-se no Mausoléu Imperial, na cidade de Petrópolis, RJ.
Se Buenos Aires tem o cemitério da Recoleta; e Paris, o Père-Lachaise – pontos turísticos dessas cidades –; o Rio de Janeiro não fica atrás em importância com o Cemitério São João Batista, tanto pelo número de celebridades que lá foram enterradas, como pelo luxo de alguns mausoléus, a ponto de ser considerado a maior galeria de art nouveau a céu aberto da América Latina. Mas não apenas art nouveau. No São João Batista, há sepulturas inspiradas nos estilos neoclássico, neogótico, art déco, eclético e moderno.
Falta aos brasileiros superarem certo preconceito em relação ao mundo dos mortos para que o São João Batista se torne um ponto de visitação obrigatório. Preconceito que já existia em 1852, diga-se de passagem – e sem trocadilhos –, quando o cemitério foi inaugurado. Ninguém queria enterrar seus mortos ali. Até então, o destino dos finados era o terreno de uma igreja. Havia na cidade apenas um cemitério: o Cemitério dos Ingleses, no bairro da Gamboa, inaugurado em 1811 e, como o nome diz, privativo de cidadãos de origem inglesa, em sua maioria militares que morriam durante as longas viagens ultramarinas.
Criado a partir do decreto imperial nº 842, de 16 de outubro de 1851, como medida sanitária, o São João Batista foi oficialmente inaugurado somente em 4 de dezembro de 1852, no dia que foi enterrada a menina Rosaura, de quatro anos, filha de Cândido Maria da Silva. Até 1855, no São João Batista seriam feitos 412 sepultamentos, e, nos anos seguintes, o número aumentaria exponencialmente com a transferência dos túmulos das igrejas e de pequenas necrópoles para lá. Foi o caso dos restos mortais do poeta Álvares de Azevedo, originalmente enterrados na antiga Praia da Saudade – onde hoje fica o Iate Clube do Rio de Janeiro –, em um túmulo que foi destruído por uma ressaca.
Cemitério de celebridades
Entre os mais de 65 mil túmulos do São João Batista, destacam-se os de Dorival Caymmi, Clara Nunes, Cazuza, Luís Carlos Prestes, Oswaldo Cruz, Di Cavalcanti, Oscar Niemeyer, Heitor Villa Lobos, Carlos Drumond de Andrade, José de Alencar, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Chacrinha, diversos barões do Império, onze presidentes da República – Afonso Pena, Artur Bernardes, Eurico Dutra, Nilo Peçanha, José Linhares, Café Filho, Carlos Luz, Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici e Ernesto Geisel – e cerca de 70 imortais da Academia Brasileira de Letras, entre eles Guimarães Rosa e Machado de Assis. O enterro de Machado de Assis em 1908 parou a cidade, e o bairro de Botafogo assistiu a um dos maiores cortejos fúnebres da sua história. A multidão se repetiria em 1923, para o enterro de Rui Barbosa; em 1932, no funeral de Santos Dumont; em 1952, para sepultar o Rei da Voz Francisco Alves; e em 1955, na despedida da pequena notável Carmem Miranda.
A administração do São João Batista interrompeu a oferta de passeios gratuitos guiados pelo historiador e professor Milton Teixeira, o que é uma pena. O professor, que sempre morou em Botafogo, conhece toda a história – oficial e oficiosa – do cemitério das celebridades. Mas ainda é possível passear pelo cemitério por meio do Google Street View.
Informações: (21) 2594-1162
Endereço: Rua Real Grandeza S/N