Baby face
Vigora uma narrativa no mundo que enaltece a tecnologia e a ciência, em detrimento dos chamados valores humanísticos. Assim se iniciou uma espécie de peleja entre as ciências humanas e as exatas. E, claro, tal divisão – equivocada – atende a certa estratégia de mercado, que aposta na eventual indigência cognitiva. Com vistas ao trabalho. E na habitual ignorância programada. Cujo objetivo é o lucro.
Em verdade, toda ciência deve conspirar em prol do humano. Sempre foi assim desde Aristóteles, Sócrates ou Platão – tempo em que os saberes não eram excludentes.
Demonizar, portanto, o que há de humanístico nas ciências remete, hoje, à estrutura de pensamento análoga à era medieval. E há hordas de ideólogos do grotesco girando o mundo. Agora em rede.
Em tempos outros em que a cultura e a ilustração faziam parte do currículo tanto de médicos, quanto de procuradores; tanto de juízes, quanto de engenheiros foi que o espírito do ainda hoje considerado maior cirurgião plástico do mundo, Dr. Ivo Pitanguy, se forjou. E sempre unindo técnica e arte.
Estudioso profundo da cultura e da psiquê humanas, Pitanguy é também imortal da Academia Brasileira de Letras, uma vez que é autor de longa produção científico-literária.
Ivo veio, direto das Minas Gerais, montar sua base de trabalho e ensino no então bucólico bairro carioca:
Oscar Simonsen me mostrou uma casa na rua Dona Mariana, entre as ruas Voluntários da Pátria e São Clemente, no bairro Botafogo, uma verdadeira alameda de árvores quase sem edifícios, margeada por casas que remontavam a época do auge da aristocracia do Rio de Janeiro.
Em seu livro de memórias, Viver vale a pena, o cirurgião traça, com inteligência e graça, sua exitosa trajetória, mostrando que sua vasta cultura levou-o a percorrer o mundo, além de outorgar-lhe o troféu de o melhor.
Especialistas de todo canto se formaram na base de Botafogo, ou seja: as melhores mãos do mundo passaram pelas mãos de Ivo:
Com a abertura da clínica em Botafogo, o curso de pós-graduação em cirurgia plástica passou a usufruir de uma biblioteca onde os médicos-residentes e alunos podiam ter acesso a publicações especializadas, livros, fotografias e vasto material digitalizado.
Reconhecida por xeiques, príncipes – e sobretudo – princesas, a clínica-escola tornar-se-ia uma passarela de celebridades internacionais.
Pitanguy que, curiosamente, em tupi significa “criancinha”, “bebê” – à parte da cirurgia reparadora em queimados e acidentados em geral – ajudou muita estrela de Hollywood a voltar a ter de novo “aquele” rostinho encantador!
Diz que por Botafogo desfilaram um dia de Sophia Loren a Cher; de Pamela Anderson a Gina Lollobrigida.
Diz que até Lady Di, certa feita, pintou por ali…