Ocupação do bem
Atividades na Praça Nelson Mandela uniram moradores, AMAB e administração municipal
O domingo 7 de maio marcou o início do movimento Ocupação Nelson Mandela, promovido pela Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (AMAB), com o apoio das forças de segurança – Polícia Militar e Guarda Municipal – e outros órgãos governamentais. Durante todo o dia, a praça entre as ruas Voluntários da Pátria e São Clemente, bem à saída da estação do metrô, esteve ocupada por uma série de atividades e ações.
A ideia da ocupação surgiu a partir do aumento da população de rua na praça, que foi afastando os moradores do local. “As mães deixaram de levar as crianças para brincar. Os idosos evitavam se reunir lá. Aos poucos, a Praça Nelson Mandela foi sendo abandonada. Infelizmente, entre os muitos desvalidos que se instalaram na praça, há menores que praticam furtos, assim como os que pedem, de maneira tão acintosa, que parece mais ameaça do que pedido”, explica Regina Chiaradia, presidente da AMAB, para o Curta Botafogo.
“A praça é do povo.” (Castro Alves)
“Se você quer um lugar bem frequentado, frequente-o. Vá você, leve sua família. Volte a ocupar o espaço para não deixar o espaço vazio pra práticas negativas”, convocava Regina na abertura do evento. Ela estava emocionada com o encontro que reuniu moradores, frequentadores do bairro, autoridades e moradores de rua: “Botafogo abre os braços para todos os cidadãos, inclusive os que estão em situação de rua. Eu estou muito feliz com esse avanço da nossa cidade”.
Entre os representantes da administração municipal, estavam a secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Teresa Bergher; a subsecretária de Assistência Básica e Especial, Ana Flor Rimolo; o comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Ricardo Naldone; a defensora pública Carla Beatriz Nunes Maia, titular do Núcleo de Direitos Humanos; o administrador regional Gerson Guerreiro; o vereador Alexandre Arraes, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores; o Superintendente da Zona Sul, Marcelo Maywald; e o representante da secretaria de Conservação e Serviços Públicos, Pedro Rafael.
Regina abriu as atividades convidando as autoridades presentes à frente do palco armado no meio da Nelson Mandela. O comandante Naldone falou sobre a união entre as forças de segurança, população e a associação de moradores com o intuito de revitalizar as praças, fazer com que as famílias possam voltar a circular com segurança: “É restabelecer o convívio dos moradores nos espaços públicos”.
A defensora Carla Maia, coordenadora do grupo de trabalho Pop Rua, levou o público a uma boa reflexão: “O carioca tem, infelizmente, uma tradição de excluir os menos favorecidos. Inúmeras pessoas foram obrigadas a viver ao relento, a ter as ruas como sua residência. No Rio, são cerca de dez mil pessoas. Como o carioca lida com isso? De forma muito limitada e prejudicial a ele mesmo. O cidadão vê uma pessoa em situação de rua e chama a guarda municipal para retirar. Só que, no momento em que a guarda municipal retira o morador de rua e seu papelão, muitas vezes com violência, ele está confirmando a condição de pobrezinho, daquele padrão mental que ele tem. Se ele levaria mais um ano na rua, agora vai levar mais dez”, concluiu.
A secretária Teresa Bergher foi a última a discursar e destacou que, enquanto ela estiver à frente da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, “nenhum morador de rua será espancado por agente público, como vinha ocorrendo”. Para ela, “só o amor e o diálogo transformam a vida das pessoas”.
Coral Circulando Uma Só Voz
Em seguida, foi a vez da música tomar conta da praça. “Fé na vida, fé no homem, fé no que virá! Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”. Com esses versos de Gonzaguinha em “Semente do amanhã”, começou a apresentação do Coral Circulando Uma Só Voz, formado por ex-moradores de rua. Sob a regência do educador social Ricardo Branco, eles cantaram mais duas músicas: “Wave”, de Tom Jobim, e “Freedom”, canção da África do Sul que fez parte da campanha pela libertação de Nelson Mandela. O coral faz parte de um programa de intercâmbio e capacitação internacional de Arte e População de Rua, nascido nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
A festa estava apenas começando. A atração seguinte foi a Banda da Guarda Municipal que tocou o choro “Os boêmios”, de Anacleto de Medeiros; “Samba do Avião”, de Tom Jobim; “Chega de saudade”, também de Jobim, só que em parceria com Vinícius de Moraes; e fechou com um pot-pourri de sucessos de Tim Maia.
A animação seguiu com “aulão” esportivo com a turma da 3ª idade que participa das atividades do projeto Rio Ar Livre, da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, sob o comando da professora Selma Brito. Para quem não conhece o projeto, é bom saber que há aulas gratuitas em quatro praças de Botafogo: Praça Corumbá, Praça Joia Valansi, Praça Mauro Duarte e, claro, Praça Nelson Mandela. As aulas são de segunda a sexta, em três turmas das 7h às 10h. Para participar, basta ter mais de 40 anos e comparecer a um desses locais com disposição e levando atestado médico.
Enquanto tudo isso acontecia, funcionários do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Padre Veloso apresentavam à população os serviços prestados em seu endereço da rua São Clemente 312, sendo o principal deles o de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). Já a Defensoria Pública ofereceu serviços de documentação.
A equipe do CRAS
E ainda houve várias outras atividades lúdicas e culturais, como oficinas de desenho e contação de histórias, sensorial e fantoche, e a de capoeira para crianças promovida pela Equipe Brincadeira de Angola, além das apresentações da Cia. de Teatro Contemporâneo e da banda Ala Black, que fechou o evento botando todo mundo para dançar.
Agora é manter a ocupação do bem na praça Nelson Mandela, e, para isso, é preciso contar com todos. Como diz a presidente da AMAB, “quando você ocupa a área com uma coisa que é do bem, você afasta o que é do mal”.
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