A origem nada santa a rua São Clemente

A origem nada santa a rua São Clemente

Clemente Martins de Matos nasceu em berço esplêndido na cidade do Rio de Janeiro, em 1628, filho do militar e político Álvaro de Matos e de Marta Filgueira.

Como era comum para filhos de famílias de posses, Clemente foi enviado para um seminário, em Lisboa, onde deveria ser ordenado padre, profissão de prestígio em uma época em que não havia separação entre Igreja e Estado.

Consta que o jovem Clemente aprontou muito, envolvendo-se com mulheres, e que, por isso, teria sido expulso do seminário. Para qualquer um, teria significado o fim das pretensões de uma carreira na Igreja; mas não atrapalhou Clemente, que não era qualquer um.

O avô rico e o pai, capitão e vereador, mexeram alguns pauzinhos, e Clemente concluiu seus estudos em Roma, retornando padre ao Rio, por volta de 1650.

Também graças à “meritocracia”, Clemente foi galgando cargos importantes na Igreja: vigário-geral, arcediago e tesoureiro-mor, até chegar à condição de substituto do bispo.

Como tesoureiro-mor, Clemente foi responsável por uma administração desastrosa e bastante suspeita. Ao fim de sua gestão, o velho prédio da Sé – a igreja de São Sebastião, no alto do Morro Castelo – estava caindo aos pedaços, enquanto Clemente havia enriquecido ao ponto de adquirir, em 1680, o equivalente ao bairro inteiro de Botafogo.

Suas terras tinham como limite a Enseada de Botafogo, a Lagoa de Sacopenapã  (hoje Rodrigo de Freitas) e os morros de São João e Dona Marta, este último batizado em homenagem à mãe de Clemente.

A modéstia também não era o forte do padre Clemente. Nas terras compradas, ele fundou uma fazenda – a Fazenda do Vigário-Geral ou de São Clemente, em homenagem ao santo de mesmo nome. Talvez porque Deus perdoe a todos que se arrependam, o padre Clemente ergueu uma capela dedicada a … São Clemente! E, por fim, mandou abrir um caminho da Enseada de Botafogo até a capela, que batizou de… isso mesmo: São Clemente!

Quando o padre Clemente faleceu aos 74 anos, em 8 de junho de 1702, seu corpo foi velado e enterrado na Igreja de São Sebastião, a mesma igreja da qual tanto se descuidara quando era tesoureiro. Deus escreve certo por linhas tortas. E tem senso de humor.

Vista da Igreja de São Sebastião, no Morro do Castelo

Antonio Augusto Brito