A história de Furnas em Botafogo

A história de Furnas em Botafogo

Botafogo foi sede do escritório central de Furnas Centrais Elétricas durante 48 anos (1972-2020). A empresa foi criada por Juscelino Kubitschek, presidente que pensava grande. Ele represou parte de um rio de Minas Gerais para construir a hidrelétrica de Furnas e, assim, fazer valer seu slogan de campanha “50 anos em 5”, com desenvolvimento calcado no tripé indústria, transportes e energia. Mas agora, um presidente que pensa pequeno deseja privatizar a empresa.

Hidrelétrica de Furnas

A saída de Botafogo do escritório central de Furnas Centrais Elétricas – hoje Eletrobras Furnas – faz parte do processo de privatização iniciado em 1996 e levado a cabo pelo atual governo. É o fim de uma bela história, que começou com o presidente Juscelino Kubitschek no dia 28 de fevereiro de 1957, data da criação da empresa.

Naquela época, as três maiores cidades do país – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – corriam risco de paralisação de suas economias por falta de energia. A Light, concessionária canadense, tinha dificuldades para acompanhar o aumento da demanda em suas áreas de concessão. Problema semelhante enfrentava a American & Foreign Power (Amforp), geradora e distribuidora de energia para Belo Horizonte, outras capitais e importantes municípios do interior paulista.

A solução foi construir uma usina hidrelétrica estatal, a maior do Brasil, que abastecesse o centro econômico do país. O local escolhido foi o trecho médio do rio Grande, localizado no Sul de Minas. Em janeiro de 1963, as águas do rio Grande foram desviadas para a construção da usina, formando o Lago de Furnas – um dos maiores lagos artificiais do mundo, com 3,5 mil quilômetros de perímetro – que abrange 40 municípios mineiros*, entre eles o de Capitólio, que ganhou as manchetes por causa da recente tragédia: no dia 8 de janeiro, o deslizamento de uma rocha gigantesca atingiu, em cheio, um barco de turistas, matando instantaneamente dez pessoas.

Ao longo de quase seis décadas, o Brasil desenvolveu um sistema integrado de geração e transmissão, sob a liderança de Furnas, que permite transportar grandes quantidades de energia entre regiões distantes mais de dois mil quilômetros entre si, garantindo fornecimento a baixo custo. Esse setor estratégico foi decisivo para a indústria automobilística e para todas as grandes indústrias surgidas após a criação de Furnas, sem falar na construção de Brasília, outro grande projeto de Juscelino.

A sede em Botafogo

Início das obras do Escritório Central

De 1972 a 2020, funcionou em Botafogo o escritório central de Furnas Centrais Elétricas, um conjunto de três edifícios localizados num terreno de 32 mil m² na rua Real Grandeza. A empresa havia crescido muito, e os escritórios alugados no centro da cidade deixaram de ser funcionais. Havia a necessidade de centralização e integração entre as equipes. A construção começou em 1967, pelos blocos A e B, e foi concluída em 1972. Dois anos depois, foi iniciada a construção do último bloco, entregue em 1978.

A chegada de Furnas ao bairro impulsionou o comércio e serviços, desenvolvendo toda a região. Muitos restaurantes – boa parte deles forma o Polo Gastronômico de Botafogo –, bares, salões de beleza, academias de ginástica, clínicas médicas e laboratórios surgiram para atender à demanda de uma empresa que, em determinado momento, chegou a ter quase cinco mil funcionários em sua sede.

Mas a presença de Furnas em Botafogo representou muito mais.

Seu Espaço Furnas Cultural – com teatro e galeria de arte – inseriu a empresa na cena cultural do bairro, abrigando exposições e apresentando shows gratuitos de grandes artistas de MPB, como João Bosco, Leila Pinheiro, Yamandú Costa, Mart’nália e Ivan Lins.

E Furnas foi além, investindo em ações sociais e de sustentabilidade voltadas para a Comunidade Santa Marta, como o Cozinha Brasil – programa de segurança alimentar em parceria com o SESI – e o projeto Guerreiros de Fé, com ênfase no incentivo à prática de esportes por jovens da comunidade.

Sob nova direção

Desde o dia 3 de novembro de 2020, os blocos A, B e C passaram a ser administrados pela proprietária dos imóveis: a Real Grandeza, fundação de previdência e assistência social dos funcionários de Furnas – e também da Eletrobras, da Eletronuclear e da própria Real Grandeza –, que atende um total de 13 mil pessoas, entre ativos e aposentados. Uma consultoria foi contratada para identificar a melhor destinação a ser dada ao complexo. Ao que tudo indica, a venda.

Restam a história e a certeza de que tudo pode mudar quando o país voltar a pensar grande.

*Aguanil, Alfenas, Alpinópolis, Alterosa, Areado, Boa Esperança, Cabo Verde, Camacho, Campo Belo, Campo do Meio, Campos Gerais, Cana Verde, Candeias, Capitólio, Carmo do Rio Claro, Coqueiral, Cristais, Divisa Nova, Elói Mendes, Fama, Formiga, Guapé, Ilicínea, Itapecerica, Juruaia, Lavras, Machado, Monte Belo, Muzambinho, Nepomuceno, Paraguaçu, Perdões, Pimenta, Ribeirão Vermelho, São João Batista do Glória, Varginha, São José da Barra, Serrania e Três Pontas.

Hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais

Fontes:

https://www.ilumina.org.br/furnas-nao-era-so-um-predio-em-botafogo-artigo/
http://www.ilumina.org.br/e-ai-brasil-vai-ficar-por-isso-mesmo/

https://www.furnas.com.br/subsecao/2/institucional?culture=pt

https://www.frg.com.br/

https://www.frg.com.br/

Antonio Augusto Brito