Barbosa Lima Sobrinho, um democrata

Barbosa Lima Sobrinho, um democrata

O advogado, escritor, historiador, ensaísta, jornalista e político pernambucano Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho viveu com a mulher D. Maria José e quatro filhos em uma casa no número 217 da rua Assunção, em Botafogo. Nacionalista ferrenho, ele foi deputado, governador de Pernambuco, constituinte em 1946 e candidato a vice-presidente da República. Como membro da Academia Brasileira de Letras e presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), ele participou das grandes lutas populares – durante a vigência do regime militar, iniciado em 1964, e também no período de redemocratização. Barbosa Lima Sobrinho foi uma figura tão admirada que a Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (AMAB), com apoio dos moradores, conseguiu que uma praça no fim da rua fosse reformada e ganhasse o nome de Largo Barbosa Lima Sobrinho.

Aqueles que nasceram em regime democrático dão como certas as liberdades democráticas que exercem, desde uma simples opinião política numa rede social ao direito de ser membro de um sindicato, de votar, de ser votado, de protestar e de fazer greve. Para Barbosa Lima Sobrinho, que nasceu em 22 de janeiro de 1897, nos primeiros anos de uma convulsionada República, a democracia precisou ser conquistada. Naqueles tempos da Primeira República ou República Velha, era comum prender, exilar e – em casos extremos – mandar matar adversários políticos.

Filho de uma família importante de Pernambuco – um tio havia sido presidente do Estado, cargo correspondente ao de governador –, Barbosa Lima Sobrinho se formou em Direito em 1917 e passou a dividir o trabalho de adjunto de promotor na capital pernambucana com o jornalismo. Foi colaborador de várias publicações: Diário de Pernambuco, Jornal Pequeno, Jornal de Recife, Revista Americana, Revista de Direito, Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, Correio do Povo de Porto Alegre e Gazeta de São Paulo. O caminho para a política estava traçado.

Em 1921, Barbosa Lima Sobrinho mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a viver do jornalismo. Em 1924, já era uma liderança no setor e foi eleito presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Na associação, ele foi presidente de 1926 a 1927 e de 1930 a 1932, presidente do Conselho Deliberativo de 1974 a 1977 e novamente presidente de 1978 a 2000.

Na política, Barbosa Lima Sobrinho atuou como deputado federal (1935-1937), deputado constituinte (1946) e governador (1946-1951), sempre pelo Estado de Pernambuco.

Em 1973, aceitou ser vice-presidente de Ulysses Guimarães em uma “anticandidatura” à presidência da República. Como a eleição era indireta, por meio de um colégio eleitoral dominado pela Arena, partido dos militares, Ulysses criou a anticandidatura para denunciar o caráter antidemocrático do regime e chamou Barbosa Lima Sobrinho, uma figura de prestígio, para compor a chapa de protesto. Naquele ano, Ulysses e Barbosa Lima Sobrinho percorreram o Brasil, participando de diversos atos políticos. Perderam a eleição, conforme previsto, e, em 1974, o general Ernesto Geisel foi eleito com 400 votos, contra 75 para Ulysses. Em compensação, graças à campanha da anticandidatura, o MDB venceu as eleições parlamentares daquele ano em 16 dos 22 Estados.

A imprensa a serviço da democratização

À frente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho defendeu os direitos humanos, a liberdade de pensamento e de expressão e foi um incansável opositor do Ato Institucional nº 5, editado pelo presidente Arthur da Costa e Silva em 1968. Em relação à censura, dizia: “a liberdade de imprensa não existe sem liberdade de informação, que não é um direito do jornalista, mas do público”.

Muito antes do surgimento do termo “fake news”, Barbosa Lima Sobrinho defendia o compromisso do jornalista com a verdade. “Notícia, depois de apurada, tem de se conhecer a sua origem para saber se o fato é real ou se é apenas uma fantasia (…) não posso conceber um repórter veiculando uma notícia falsa, e, se apurou que é realmente falsa, ele deve noticiar qual é a verdade”.

Barbosa Lima Sobrinho participou de algumas das principais lutas do período de redemocratização, como “anistia ampla, geral e irrestrita” em 1979; “diretas já” em 1984; eleição de Tancredo Neves em 1985; Assembleia Constituinte em 1987; impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992; e contra as privatizações do governo FHC em 1994.

Em 2000, Barbosa Lima Sobrinho morreu, aos 103 anos de vida. Teve uma vida pública exemplar e profícua, com mais de 50 livros publicados, além de diversos contos e um sem número de artigos. A casa em que viveu com a mulher D. Maria José e os quatro filhos foi demolida pouco tempo depois de sua morte, dando lugar a um prédio residencial. E, por uma dessas ironias terríveis, a escola municipal vizinha ao antigo endereço permanece de pé e se chama Arthur da Costa e Silva, ditador contra o qual Barbosa Lima tanto lutou.

Largo Barbosa Lima Sobrinho

Antonio Augusto Brito