Por que morrem os poetas?
Ali pelos idos do século XIX foi o tempo em que o chamado mal do século – a tuberculose – cismou de ceifar vidas de poetas, impiedosamente.
Assim seria com Álvares de Azevedo e com Castro Alves; assim foi com José de Alencar e com Cruz e Sousa. Todos mortos antes de completarem a quinquagésima primavera. Os dois primeiros, desaparecidos ainda nas duas primeiras décadas de vida.
Contudo, ars longa, vita brevis, isto é: morto o Poeta – aos 20 ou aos 50 –, vive a Obra. E é o tempo que lhe conferirá brio e perenidade.
Há outros poetas, no entanto, cuja morte é quase opção – embora inconsciente. Espécie de busca voluntária e incessante. Como se o próprio fosse uma pira.
Em vários casos, isto se dá mediante o excesso das drogas. Lícitas e ilícitas. Com Paulo Leminski foi mais ou menos assim:
O papel é curto
Viver é comprido
Recusando-se a viver em voltagem normal, o cachorro loko das araucárias atacou por todas as áreas: do haikai ao judô; do tarô ao latim. E produziu em progressão geométrica – como se prevendo a brevidade de seu tempo:
Tudo dito
Nada feito
Fito e deito
De que forma estaria o poeta – morto em 1989 – hoje, no auge de seus 75 anos? Difícil projetar uma imagem do Leminski velho, decrépito. O próprio Paulo, como um samurai, recusara-se sumariamente a mirar-se na caretice da idade:
rio do mistério
o que seria de mim
se me levassem a sério?
Dessa maneira, pegou carona em todas as trips possíveis do tempo. E repetia no bordão dos hippies – não sem um quê de melancolia:
Esta vida é uma viagem
Pena eu estar
Só de passagem
Foi no embalo de uma dessas lendárias viagens que o poeta veio de Curitiba viver no Solar da Fossa – a mítica pensão de Botafogo. O nome de seu mais famoso romance, Catatau, nasceu ao acaso, ali, naqueles pátios.
E seria no bairro, nas famosas noites de poesia do bar Barbas, que Leminski lançaria, no Rio, sua produção em prosa e verso da época.
Sabe-se que Paulo morrera de birita. Mas consta que para sua radiante piração concorriam sempre otras cositas más.
O parceiro Moraes Moreira faz glosa e prosa da época em que ainda morava por Botafogo:(…) Leminski saía de Curitiba e ficava hospedado na minha casa. Uma semana lá e a gente fazia cinco músicas. O cara não parava. Era uma loucura. Certa vez, a gente até tomou um ácido e ficou esperando a onda bater. E não acontecia nada. Uma hora ele levantou e disse: “Esse ácido é fajuto. Nem uma rima!”