Marechal Niemeyer
A pequena rua Marechal Niemeyer – localizada em Botafogo, entre as ruas Assunção e Bambina – ganhou esse nome em homenagem a Conrado Jacob de Niemeyer Filho (1831-1905), o mais proeminente de uma tradicional família de engenheiros militares de origem luso-germânica e o primeiro deles nascido no Brasil. Como militar e engenheiro, Conrado Niemeyer Filho atuou no corpo de engenheiros do exército, durante a Guerra do Paraguai, fazendo levantamentos cartográficos e reconhecimentos, projetou pontes e estradas, trabalhou em questões de limites geográficos e foi o fundador do Clube de Engenharia em 1880. Ao longo de sua brilhante carreira, foi comandante das Armas de Mato Grosso e Amazonas, governador da província do Amazonas, ministro do STM, e atingiu o posto de marechal – o mais alto da hierarquia.
O primeiro Niemeyer a por os pés no Brasil foi o pai, Conrado Jacob de Niemeyer, em 1808, junto com a corte de Dom João VI. Recém-saído do Colégio Militar de Lisboa, ele se recusou a ficar em Portugal e a servir ao invasor francês. Acompanhado de dois outros cadetes e nove soldados, conseguiu alcançar a esquadra inglesa no porto de Lisboa e fugir. No Brasil, cursou engenharia e se notabilizou pela elaboração dos mapas do Império do Brasil.
Em 1855, no posto de alferes do Estado-Maior, Conrado Niemeyer Filho acompanhou seu pai na Comissão de Dessecação dos Pântanos, Canalização e Navegação do Rio Beberibe, em Recife, passando, em seguida, a colaborar com ele na elaboração da Carta Corográfica do Império. Dois anos depois, como tenente do Corpo de Engenheiros, integrou a Comissão de Limites com o Estado Oriental – atual Uruguai –, no Rio Grande do Sul, onde ficou até 1862.
Guerra do Paraguai
Conrado Niemeyer Filho serviu, durante cinco anos, na frente de batalha da maior guerra da história da América do Sul: a Guerra do Paraguai. Inicialmente no posto de major do Corpo de Engenheiros, trabalhou na abertura de estradas, na organização do terreno e nos reconhecimentos para elaboração de mapas de guerra. No trabalho de reconhecimento que antecedeu à tomada da fortaleza de Humaitá em 1867 – episódio decisivo, liberando o rio Paraguai para passagem da armada brasileira com canhões e homens –, ele se utilizou de um balão para fins militares comprado nos Estados Unidos. O balão, com 8,5 metros de diâmetro e espaço na cesta para dois observadores, ascendia a 330 metros, altura em que permanecia fixo por três cordas seguradas no solo por soldados. Mas havia dois problemas: o primeiro era fabricar hidrogênio em quantidade suficiente para encher o balão a partir da reação do ácido sulfúrico com ferro de sucatas; o segundo eram as dezenas de fogueiras que os paraguaios acendiam para que a fumaça dificultasse a visão de suas posições.
Após o fim da guerra, já como tenente-coronel, Conrado Niemeyer Filho chefiou, em 1873, uma comissão encarregada de organizar a defesa do Rio Grande do Sul e elaborar o mapa geográfico daquela província. Em 1880, fundou, no Rio de Janeiro, o Clube de Engenharia, primeira sociedade do gênero na América Latina. Em 1882, projetou a estrada de ferro que ligaria a Corte a Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso. Foi diretor de obras da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e, a partir de 1890, diretor-geral de obras militares. Foi ainda comandante de armas de Mato Grosso e Amazonas, governador da província do Amazonas (1887-1888), ministro do Supremo Tribunal Militar e comandante da 1ª Divisão do Exército durante a Revolta da Armada, iniciada em 6 de setembro de 1893. No dia 5 de abril de 1895, foi alçado ao posto de marechal. Pelos relevantes serviços prestados, recebeu as condecorações de comendador da Ordem da Rosa, Grã-Cruz de São Bento de Aviz e cavaleiro da Ordem de Cristo.
Você pode estar se perguntando se Oscar Niemeyer, nosso famoso arquiteto, tem alguma coisa a ver com Conrado Jacob de Niemeyer Filho. Sim, os dois eram primos de 4º grau. Enquanto o Marechal Niemeyer virou nome de rua do bairro, bem perto dali, na Praia de Botafogo, o conjunto arquitetônico da Fundação Getúlio Vargas – composto pelo prédio da FGV, por um centro cultural e pela Torre Niemeyer – lembra o Niemeyer arquiteto, autor do projeto, que só foi inteiramente concluído após a sua morte.
Fontes de pesquisa:
DUQUE ESTRADA, Luiz Gonzaga, Marechal Conrado Jacob de Niemeyer – Apontamentos bibliográficos, Maia & Niemeyer, Rio de Janeiro, 1ª edição (1900).
DORATIOTO, Francisco, Maldita Guerra, Companhia das Letras, São Paulo (2002).